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A era da educação híbrida

Nesta entrevista exclusiva, o professor Herbert João, Diretor Científico da XPerience, faz observações importantes sobre o impacto do uso de tecnologias na rotina do professor e do aluno e cita a educação híbrida como grande tendência de ensino. “Saímos de um processo que acontecia presencialmente na escola, antes da pandemia, para um processo que acontece na escola e, em paralelo, a qualquer momento e qualquer lugar”, afirma.

Formado em Ciências Exatas, com habilitação em Física, pelo Instituto de Física da USP, em São Carlos, Herbert é consultor para assuntos ligados ao uso de tecnologias na educação e conhecedor de inúmeros ambientes virtuais de ensino-aprendizagem, como simuladores, softwares e repositórios de materiais educacionais digitais. Confira a entrevista a seguir.

XPerience: Como você enxerga o movimento de adoção de novas tecnologias nas escolas?

Herbert João: A pandemia, sem dúvida, acelerou o processo disruptivo na educação, levando os professores a fazerem uso massivo das tecnologias, tanto para se comunicar com os estudantes e ministrar suas aulas, quanto para manter os estudantes ativos neste período de distanciamento social. Esse movimento – tudo indica – deve manter a escola no formato híbrido.

Para grandes especialistas da educação, nós estamos entrando, de fato, na era da educação híbrida. Primeiro porque já se pregava muito a questão do uso de metodologias ativas, de um processo de ensino-aprendizagem focado no aluno. E agora, mais do que nunca, temos diretrizes apontando para a formação de sujeitos com habilidades que demandem deles uma ação proativa para a aprendizagem.

Nesse cenário, as tecnologias são importantes, por exemplo, para viabilizar o acompanhamento individualizado e o atendimento de diferentes expectativas e estilos de aprendizagem. A educação híbrida é bem-vinda porque flexibiliza, ou seja, o trabalho do professor deixa de ser focado exclusivamente na sala de aula.

Foi-se o tempo em que o professor ministrava aulas e dava muita matéria para o aluno. Saímos de um processo que acontecia presencialmente na escola, antes da pandemia, para um processo que acontece na escola e, em paralelo, a qualquer momento e qualquer lugar.

O que muda para o professor no cenário atual?

Herbert: A pandemia forçou os professores a passarem por um processo formativo. Eles conheceram diversas ferramentas e já estão implementando e praticando o uso delas no processo de ensino-aprendizagem.

O professor, agora, pode utilizar uma ferramenta como um mural digital, a exemplo do Jamboard ou do Padlet, no qual ele disponibiliza um podcast para o aluno ouvir ou um link para um laboratório virtual, para um vídeo, um espaço de perguntas e respostas, um questionário gamificado para ele responder, assim por diante.

Esta mudança é um caminho sem volta, porque o formato híbrido amplia as possibilidades de estudo do aluno, amplia a carga horária, diversifica os tipos de materiais, atende às diferentes necessidades de aprendizagem, isso tudo dado à adoção das tecnologias. O professor ganhou mais opções.

Como as escolas estão encarando a adoção da realidade aumentada?

Herbert: Eu tive a oportunidade de apresentar o aplicativo da XPerience para alguns professores, que o acharam muito interessante. Alguns deles usaram e, para a nossa satisfação, os estudantes ficaram muito engajados. Foi uma soma de diversos fatores, entre eles, a novidade de ter uma experiência imersiva com conteúdos educacionais.

O que eu posso destacar, até aqui, é que estamos na fase de finalização de uma primeira etapa do aplicativo, a partir da qual já poderemos levá-lo para mais escolas experimentarem.

Na próxima etapa o professor vai poder, inclusive, coletar dados para avaliar o processo de aprendizagem do estudante, um ponto que considero muito importante: a gestão desses dados de forma individualizada. Com as métricas, o professor poderá ver quanto tempo o aluno permaneceu ali, o desempenho dele em cada atividade, e avaliar se gerou um estímulo maior para o aluno estudar determinado assunto.

Neste segundo semestre de 2021, faremos as primeiras aplicações do projeto considerando as métricas coletadas em sala de aula.

Atualmente, já existe muita tecnologia imersiva para educação ou a realidade aumentada é uma das únicas?

Herbert: Para a educação, temos principalmente a realidade aumentada e a realidade virtual como tecnologias imersivas. Elas têm muitas aplicações, não apenas na educação, mas na medicina, engenharia, em treinamentos da educação corporativa e, do ponto de vista da educação básica, essas tecnologias têm crescido muito. Há grandes players do mercado, como o Google, investindo no desenvolvimento de objetos em realidade aumentada, com vídeos, e ampliando seu catálogo de vídeos em realidade virtual no YouTube, começando a demonstrar o potencial dessas ferramentas para uso em sala de aula.

A cada ano que passa existe um tipo de inovação diferente, com a possibilidade de, por exemplo, explorar a realidade mista, não apenas utilizando marcadores, mas com óculos. São tecnologias que estão se tornando cada vez mais acessíveis e com um potencial para aplicação em larga escala na educação.

Quais são as vantagens do uso dessas novas tecnologias em sala de aula?

Herbert: As tecnologias imersivas têm um caráter não só inovador, mas principalmente de estimular o aluno a realizar as suas atividades com a gamificação, similar ao que acontece no conhecido jogo de Pokémon Go.

Com isso, as escolas podem ter situações de aprendizagem em que o aluno localiza, por exemplo, elementos de uma célula e percebe como ela funciona. Ou, para citar outro exemplo, como manipular um motor elétrico com a ponta dos dedos. Com um simples toque na tela, ele pode verificar o que acontece se trocar o ímã ou a posição da pilha.

Então, o uso da tecnologia é benéfico porque torna o aluno ativo em sua aprendizagem. O aluno aprende muito mais experimentando do que ouvindo a descrição desse experimento.

Muitas vezes falta estímulo para o aluno se apropriar do problema e realizar o experimento de forma investigativa.  Quando a metodologia de ensino gamifica o processo, torna-o mais lúdico. O aluno se sente mais estimulado a participar, o que é uma grande vantagem sobretudo de disciplinas de ciências da natureza, que em geral são estigmatizadas como complexas e difíceis.

Além de engajar o aluno, essa tecnologia traz para os mantenedores de escolas métricas em tempo real do que o aluno está fazendo: quanto tempo ele se dedicou a uma determinada atividade. Atende ao desafio de individualizar o ensino.

E, detalhe, o aluno pode estudar a qualquer hora, em qualquer lugar, porque a tecnologia está na palma da mão do aluno, no celular, cujo uso está tão disseminado na sociedade.

Qual o real impacto das tecnologias imersivas para os alunos nativos digitais?

Herbert: Com tecnologias na educação, é possível diversificar os formatos de apresentação do conteúdo para os estudantes. Elas trazem algo de muito bom, que é a aprendizagem ativa, onde o aluno precisa executar uma ação concreta para cumprir a atividade, construindo, ele mesmo, sua aprendizagem.

Com relação ao termo nativos digitais, há um ponto muito interessante para ressaltar. Apesar de os alunos de hoje serem ditos da geração de nativos digitais, eles de fato dominam muito pouco o uso das tecnologias. Eles fazem um grande uso do celular para as redes sociais, fotografias e comunicação, mas dominam bem pouco as tecnologias que são fundamentais para o mercado de trabalho.

Então, primeiro, usar tecnologias imersivas dá mais um uso – eu diria um uso nobre – para o celular do aluno. Segundo, faz com que o aluno não somente use as tecnologias imersivas, como a realidade aumentada, como ferramenta em si, um meio para a aprendizagem, como também aprenda como ela funciona.

Então, a alfabetização tecnológica digital é fundamental para a geração de alunos que nós temos hoje, pois ela está disponível a cada momento e, muitas vezes, nós temos pessoas que não têm condições de fazer um uso adequado ou pensar na inovação dessas tecnologias.

Para um aluno ser um profissional ou um empreendedor amanhã, e possa trazer novas inovações para o mercado, ele precisa dominar as tecnologias que nós temos hoje. E a tecnologia não deve ser reconhecida apenas como ferramenta, mas também como área do conhecimento.